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Um olhar holístico

(Paulo Sartoran)

yoga

Todas as quartas-feiras o médico César Deveza, um dos meus professores de Ayurveda, dirige-se de seu consultório, no Butantã, até um dos centros da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente; antiga FEBEM), na Vila Maria. É recebido com sorrisos e apertos de mão por um punhado de ‘meninos’ – internos com até 21 anos –, ansiosos à sua espera. Retribui a simpatia e escolhe a sala com lousa e colchões preparados para a sua aula de Raja Yoga.

O professor Deveza é também o idealizador do Projeto Yam, cujo propósito é levar uma esperança – através da yoga – aos corações dos internos. “Senti que deveria fazer alguma coisa pelos jovens”, disse-me em um dos 5 dias de treinamento gratuito para formação de voluntários para o projeto. Uma das vocações do Instituto Cultural Potala é justamente formar novos voluntários para o Projeto Yam, para que essa idéia se alastre não só nas Fundações CASA da capital, mas também pelo interior de São Paulo.

Nem preciso dizer que as quartas-feiras são os dias preferidos do professor. Neste dia ele atravessa a cidade para estar com o seu grupo de alunos, com quem mais aprendeu que ensinou. Eu mesmo estive com ele em uma destas oportunidades e voltei de lá arrepiado da cabeça aos pés: se por um lapso de preconceito me senti em perigo, meu coração se derramou quando viu meia dúzia de jovens ‘ferozes’ na posição do Adormecer.

Assim, tão holístico quanto as terapias é a condição em que olhamos para o mundo: Deveza também conta que em outra destas quartas-feiras foi impedido de dar a sua aula por ocasião de um problema qualquer naquele centro da Vila Maria. Resignado, optou por tomar sol no pátio da fundação para passar sua hora e meia disponível de outra forma. Sem mais, aproxima-se dele um menino – que não era seu aluno – e entabula uma conversa que, de despretensiosa, tornou-se o sentido de estar ali, inteiro, naquela hora, naquele lugar.

E muitas vezes fazemos assim: deixamos que um pequeno sentimento seja maior que o todo e resmungamos por um nada de alguém que nos faz tudo. Se olharmos a vida mais holisticamente, as chances de sermos mais felizes aumentará; acredite. Experimente.

A culpa é do cérebro!

(Claudia Pedrozo)

ado

Esta semana estava eu a navegar pela net quando deparei-me com uma reportagem super interessante da Revista “Isto é Independente” que falava dos recentes estudos neurológicos que estão sendo realizados e que explicam, à luz da Neurologia, a “montanha russa” emocional pela qual passamos na adolescência.

Segundo os pesquisadores toda turbulência deste período decorre de uma tentativa que o cérebro humano faz para adaptar-se ao ambiente. Os cientistas descobriram que a adolescência é marcada pelo aumento das conexões neuronais entre diferentes partes do cérebro e o abandono de outras, que são menos usadas.

As pesquisas indicam que a maturação neuronial se inicia nas partes mais arcaicas do nosso cérebro, próximas aos centros de linguagem e das áreas ligadas ao processamento das emoções. Depois amplia-se para as áreas mais recentes do cérebro, ligadas aos pensamentos mais complexos e à tomada de decisões. Isto explica porque, na opinião dos pais e educadores, os jovens parecem não privilegiar muito uso da razão!

A “necessidade” de andar em grupos também é explicada do ponto de vista neurológico.

Para os Neurocientistas há, por volta dos 15 anos, um aumento na atividade dos chamados “neurônios espelho”. Essas células, que foram descobertas por acaso por pesquisadores italianos em 1994, explicam porque, quando vemos alguém fazendo algo, bocejando, por exemplo, automaticamente simulamos a ação no cérebro e é como se nós mesmos estivéssemos realizando aquele gesto, ou seja, imitamos mentalmente toda ação que observamos. Isso nos faz aprender atitudes e ações durante nosso processo educacional. São as células espelho que permitem que nós executemos as ações sem necessariamente pensarmos nelas, acessando apenas nosso banco das memórias consolidadas.

Eis aqui uma das explicações, a científica, para o fato dos jovens andarem “em bando” e adotarem gestos, roupas e atitudes similares. Outra explicação é o aumento do neurotransmissor chamado oxitocina, que é considerada o “hormônio do amor”, é alvo de recentes pesquisas, pois melhora a interação social e a realização de vínculos afetivos favorecendo a tendência de andar em grupos. Claro que não podemos desprezar aqui a necessidade de aceitação que acompanha este processo de identificação e que é fundamental nesta fase da vida, mais que em outras.

O legal da reportagem é que, embora aponte descobertas recentes da Neurologia, ela confirma todas as recomendações dadas, a “séculos”, por educadores, psicólogos, psicanalistas e afins aos pais (muitas vezes a beira de um colapso nervoso!) de jovens: diante do caos que representa esta turbulenta fase da vida, a solução é ter calma, manter o diálogo, conhecer e observar quem são os amigos do filho (cuidado com os neurônios espelho!), investir em cursos e projetos que estimulem a criatividade e a coletividade (esportes, por exemplo)… em outras palavras, observar, acompanhar, dialogar, respeitar e estabelecer regras e limites!

Conheço estas ações por um verbo: educar! E vocês?

JUVENTUDE E MARGINALIDADE

(Claudia Pedrozo)

limites

Semana passada, vagando pela rede, assisti a um programa jornalístico, do tipo que eu não gosto muito, mas algumas vezes acho necessário para me manter conectada com o mundo real. Era um programa sobre o crescente número de menores envolvidos na criminalidade. O “jornalista apresentador” mostrava dois crimes bárbaros e idiotas ocorridos na capital paulista no início deste ano.

Deixando de lado os motivos torpes destes jovens, sua infância sofrida, regada a pobreza e quem sabe, revoltas, que podem influenciar, mas jamais determinar a entrada na criminalidade, o que mais me chamou atenção foi a postura das mães. Talvez não haja mais lágrimas para chorar e não haja mais nada a fazer do que se conformar e tentar entender o que deu errado na educação destes jovens que a marginalidade engole cada vez mais. Há no meio do bando assassinos maiores de idade, sempre há, não é mesmo? E as mães são amigas e não entendem o que aconteceu com os filhos, mesmo com a reincidente história de privação de liberdade por roubos, sequestros e tráfico na Casa do Menor ou antiga FEBEM. Uma das cenas seria cômica, se não fosse trágica. As mães de um “maior” e do “menor” contam ao repórter que os filhos juram que não fizeram nada, que nenhum deles cometeu o crime, mesmo com todas as provas que a polícia tem.

Pergunto-me, que amor cego é este? Talvez seja o amor da culpa! Nós mães somos as “rainhas da culpa”! Alguém deveria ter dito que ser mãe é padecer de culpas mil. Culpas tolas na maioria das vezes: por não estar sempre presente, por não poder dar a criança tudo que ela quer, por ter tido preguiça e deixado o filho ir à escola de ônibus, por ter que fazer hora extra, por ter que dizer não!

E nos culpamos por quê? Porque queremos ser diferentes dos nossos pais, porque em algum momento de revolta na juventude, quando fomos limitados ou não por eles, juramos a nós mesmos que seríamos pais diferentes, melhores, mais amigos e, de repente, eis que hoje nos pegamos fazendo exatamente como faziam nossos pais! Bem, salvo algumas situações bem específicas, não poderia ser diferente. Fomos criados por eles e somos os portadores da tradição familiar, está na nossa constituição psicológica, naquilo que Freud chamou de “ideal de ego”, que são nossas estruturas de valores e que regulam a ação do nosso superego e de “ego ideal”, que são as estruturas de nossa personalidade, ou nossas máscaras, a maneira como nos mostramos para o mundo. Estas estruturas do nosso “eu” são formadas em nosso processo educacional, no qual nossos pais presentes ou ausentes, nos ensinam, mesmo quando parece que não!

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é…” as mães destes jovens cujas tendências arcaicas da personalidade ainda não foram educadas para a vida em sociedade também devem carregar seus fantasmas, provavelmente erraram tentando amar da forma que souberam ou puderam. E quem somos nós para jugá-las? Não vivemos a vida delas, não sofremos as dores delas. Podemos, empaticamente, lamentar e torcer para que a dor, que é processo de cura, as faça crescer. Faça a todos crescerem.

Quanto aos jovens que aceitaram a pulsão mais instintiva que há em nós e por ela regularam suas vidas, fico a pensar numa música antiga do Padre Zezinho: “um jovem custa muito pouco… um pouco de muito amor”!
Pais amem seus filhos, sejam racionais com suas culpas tolas, amar é também ser exigente, mas na medida certa. Seus filhos por mais que pareça o contrário,no futuro, lhe agradecerão e nossa sociedade também!

A adolescência

adolescerA ADOLESCÊNCIA

(Claudia Pedrozo)

Quando recebi o convite para falar sobre a adolescência à luz da Psicanálise, fiquei empolgada e preocupada, afinal falar sobre esta fase tão conturbada e tão bela é uma grande responsabilidade. O que escrever? Na longa trajetória como Diretora numa escola de adolescentes tive o prazer de conhecer e conviver com mil jovens que, junto com meus filhos e seus amigos, me fizeram relembrar minha adolescência e me ensinaram a entender a dor e a delícia de ser adolescente no século XXI!
O Dicionário Aurélio define adolescência como sendo um substantivo feminino cujo significado é “idade da vida compreendida entre a puberdade e a idade adulta”. O Dicionário Médico a define como sendo um “período da vida humana que sucede à infância, começa com a puberdade e se caracteriza por uma série de mudanças físicas e psicológicas, estendendo-se, aproximadamente, dos 12 aos 20 anos”.
Certo. Porém estas duas definições são frias e lendo-as não conseguimos visualizar o turbilhão emocional que é estar na adolescência, nesta etapa da vida onde treinamos o deixar de ser criança para ensaiar o ser adulto, onde mudanças hormonais desencadeiam uma montanha russa emocional que nos faz questionar quem somos e nos leva a enlouquecer nossos pais, ora amados, ora odiados. Viramos sim rebeldes, quase sempre sem causa! O que queremos nada mais é que nos encontrar, questionar e testar nossos limites, queremos ser aceitos, amados, valorizados e reconhecidos. Contestamos e chocamos com nossas roupas,“dialeto”, cabelos, músicas e atitudes. Na busca de encontrar quem somos muitas vezes precisamos, nos “perder” na contestação e no choque! Quem não passou por isso, atire a primeira pedra!
Freud diria que isso nada mais é do que a busca pelo “narcisismo primário”, época em que, bebês, éramos puro id, puro desejo. Onipotentes o mundo todo girava ao nosso redor. Bastava um chorinho para sermos atendidos, saciados, cuidados, A-MA-DOS! Então, eis que alguém, em nosso processo educacional, diz o primeiro “NÃO”! A partir deste momento percebemos a onipotência do outro e resolvemos que queremos ser tão forte e onipotente quanto ele. Passamos a viver o “narcisismo secundário” e pelo resto de nossos dias buscaremos reconquistar a onipotência primária perdida.
Entra em cena a importância da presença de cuidadores amorosos na educação dos futuros jovens. Mas esta é uma próxima conversa!