(Dra. Karen Câmara)
O sol tem sido considerado um grande vilão ultimamente. As pessoas evitam tomar sol e, quando o fazem, protegem a pele com protetores solares. É sabido que o câncer mais comum é o câncer de pele e o maior causador é o sol. As mulheres temem o sol porque ele provoca envelhecimento precoce e faz surgir manchas na pele. O sol desidrata não só a pele mas o corpo todo, uma vez que esquenta e faz suar. O sol em excesso pode provocar vermelhidão, bolhas, queimaduras, rugas, câncer.
Mas ele também traz benefícios. Talvez o maior deles seja a produção de vitamina D. O colesterol que existe no organismo é, na verdade, uma matéria prima essencial para, entre outras coisas, a fabricação de diversas substâncias, como por exemplo, a vitamina D. A luz do sol, quando incide sobre a pele, converte o colesterol em vitamina D3. A vitamina D3 é transformada em Vitamina D ativa pelo fígado e pelos rins. Tecnicamente a vitamina D é um hormônio que pode ser produzido pelo organismo através da exposição ao sol. Hoje em dia é comum o médico pedir um exame para dosar a vitamina D e é frequente encontrá-la abaixo dos níveis normais.
A vitamina D é essencial para a absorção de cálcio pelo organismo. Sem vitamina D não há absorção de cálcio pelo intestino. O cálcio não só é fundamental para a saúde dos ossos e dentes como também faz parte de vários processos bioquímicos do nosso corpo. Há estudos que mostram que a deficiência de vitamina D pode facilitar o surgimento de doenças no sistema cardiovascular, pode provocar uma diminuição da força muscular, alterações do equilíbrio e da coordenação motora, além de estar associada a dores crônicas e ao diabetes tipo 2. Pessoas com níveis baixos de vitamina D têm risco aumentado de fraturas, não só por causa da osteoporose mas também porque a força muscular e o equilíbrio estão afetados.
Quando se usa protetor solar, a produção de vitamina D fica muito diminuída. Portanto, devemos usar protetor solar nas regiões mais delicadas como a face, as orelhas, o dorso das mãos e o colo, mas algumas regiões devem ficar livres para tomar sol. Ainda vale aquela regra antiga de que devemos tomar sol nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde e pouco de cada vez. Nas latitudes em que vivemos, isto é, no Brasil, a incidência de luz solar é grande e bastam 15 ou 20 minutos diários para que possamos produzir quantidades suficientes de vitamina D. O costume brasileiro de cobrir menos o corpo, principalmente durante o verão, também facilita isso. Estudos feitos com mulheres árabes que usam burcas mostram que a maioria delas tem deficiência de vitamina D porque não se expõem ao sol, mesmo vivendo em países ensolarados.
O sol também regula vários outros processos no corpo e no cérebro. Algumas partes do cérebro registram e reagem a diferenças na quantidade de luz solar a que estamos expostos. Nas regiões próximas aos polos, onde o inverno é rigoroso e longo, o sol nasce tarde e se põe cedo. São tão poucas horas de sol por dia que algumas pessoas sofrem aquilo que se chama de Doença Afetiva Sazonal. É uma depressão que ocorre no inverno, portanto sazonal, justamente porque aquelas pessoas precisam de maior exposição à luz. Em certas escolas dessas regiões há uma sala, especialmente destinada a esse fim, com uma luz artificial forte para que as crianças possam receber uma quantidade extra de luz durante o inverno. Passar algum tempo expostas a esta luz, que imita a luz solar, teria o efeito de prevenir a depressão nas crianças.
Devemos, portanto, tomar sol com frequência, nas horas certas, em pequenas quantidades de cada vez, protegendo as áreas mais sensíveis do corpo e os olhos.