(Paulo Jacob)
Olá, como vão?
Há algumas semanas, recebi via o formulário da página “Consultório” do blog, um pedido de uma leitora para eu falar sobre a traição.
Porque traímos? E quem estamos traindo? São dois pensamentos distintos sobre o mesmo tema.
Vou começar a falar um pouco sobre porque traímos.
Já venho falando em outros textos, que nós todos temos como uma das nossas tendências (instintos primitivos), a poligamia. Mas colocar a “culpa” somente nela, não seria justo, pois eu estaria desconsiderando outros fatores que podem me fazer pensar em trair alguém. Uma desilusão amorosa, uma necessidade que não está sendo atendida (sexual ou não), uma ânsia em querer ter novas experiências, e não conseguir se controlar, ou seja, além destas podem existir outros motivos que fazem com que milhões de pessoas traiam seus companheiros e companheiras diariamente.
Acredito que independente do que for usado para justificar uma traição, no fundo o ponto principal é não aceitar que aquela pessoa não está atendendo às minhas expectativas, as minhas idealizações, e por isso eu me permito traí-la.
Agora eu te pergunto; a culpa é da pessoa em não atender as suas idealizações, ou a culpa é sua em não enxergar que ela nunca vai ser aquela pessoa que você sempre idealizou? Por que teimamos em querer que a pessoa seja algo que ela nunca será? É claro que seria ótimo que o meu parceiro continue tendo os pontos positivos dele, e que também ao longo da vida “consertasse” o que ele tem de negativo, mas isso dificilmente acontece!
Antes de se relacionar, tenha a consciência de que as qualidades e dificuldades que seu companheiro tem, dificilmente irão mudar de acordo com aquilo que você gostaria que mudasse, pois cada um tem um limite e liberdade em querer ou não mudar. Se você quer uma pessoa com determinadas características físicas e psicológicas “X, Y, Z”, não saia se relacionando com pessoa “A, B ,C”, porque depois não vai adiantar nada ficar cobrando que elas mudem. Ou você muda e aceita (compreende através da sua empatia) que elas não mudarão totalmente, e assim continua vivendo com ela, ou então você não muda, mas também não fica se queixando, caso você se deparar com uma situação como essa, afinal foi você que escolheu estar com aquela pessoa, ninguém te forçou a fazer isso, ninguém é de ninguém, estamos juntos porque queremos! Se está infeliz, tome um providência! Seja conversando sobre as suas necessidades com o seu parceiro, e estar disposta a esperar com que ele aos poucos vá se esforçando a te atender, ou então acabando com um relacionamento, e procurando outro.
E quando traímos? Estamos traindo quem?
Os nossos valores influenciam muito a formação do nosso caráter. Desde criança ouvimos algo sobre a fidelidade, que devemos ser fiéis à nossa família, que trair pai, mãe e irmãos é algo errado, e condenado pela sociedade. Depois, conforme vai chegado a adolescência, começamos a ver a fidelidade também em relação ao compromisso que tenho com o meu namorado ou namorada, ou seja, a palavra traição é algo que muitos de nós temos em nossa mente como algo errado. Então, todas as vezes que traímos alguém, a primeira pessoa que traímos somos nós mesmos, pois traímos os nossos valores. O seu companheiro que foi traído, ele pode até nem saber que isso aconteceu, mas de que adianta se você tiver na sua consciência, o sentimento da culpa de ter feito algo que você mesmo julga que é errado fazer? Por isso que no consultório quando alguém chega e me fala que está traindo alguém, eu respondo para essa pessoa, qual é a primeira pessoa que você traiu? Se isso é algo que causa um conflito, é porque está batendo de frente com os valores dela. Só nos sentimos mal com aquilo que fazemos, quando nos julgamos errados em ter feito. Uma pessoa que ao longo da sua vida, não aprendeu ou por algum motivo, não colocou a fidelidade como um valor muito importante para si, trai o outro sem culpa alguma, pois isso para ela é algo totalmente tranquilo de ser feito. Falar para ela que isso é errado, não vai adiantar nada, porque o “certo” ou o “errado” vai depender do que a pessoa acha sobre isso. Estamos todos certos e errados, isso vai depender dos valores de cada um.
Precisamos nos ater nas consequências dos nossos atos, pois de nada valerá se eu achar que posso trair, se eu não tiver estrutura para assumir pelos meus atos, e compreender que nem todos irão aceitar o que fiz, ou seja, olhar para a cara do meu parceiro e não se sentir conscientemente culpado de ter traído ele. Digo conscientemente, pois conseguimos nos enganar (o consciente), mas o inconsciente nunca enganamos, elas aparecem por exemplo, através de uma dor de cabeça todas as vezes quando encontro o meu parceiro, ou então uma insônia sem motivo algum aparente.
É muito mais fácil trair, ao invés de parar de colocar a culpa no outro, que ele não atende as expectativas que você criou na sua mente, mesmo sabendo com quem você convive há tempos. Como também parar para pensar e assumir as suas falhas, e o que você está deixando de fazer para que a sua relação fique melhor. Mas mesmo assim, se você estiver infeliz, procure conversar e expor seus sentimentos, vontades, necessidades, o diálogo é muito importante em uma relação. Mas se não tiver êxito, tome uma posição madura, e faça com o outro o que você gostaria que ele fizesse com você, caso a situação fosse inversa.
Uma boa semana para todos!
Abraços!
Paulo Jacob