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O incômodo da ansiedade

(Revista Ultimato, março e abril/2014)

Texto bíblico: Lucas, 10, 41

(Padre Jeferson Luis Leme)

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Hoje, vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. Paciência e tolerância a contrariedades estão se tornando artigos de luxo. Sem perceber, a sociedade moderna – consumista, rápida e estressante – alterou algo que deveria ser inviolável, o ritmo de construção de pensamento, gerando consequências seriíssimas para a saúde emocional, o prazer de viver, o desenvolvimento da inteligência, a criatividade e a sustentabilidade das relações sociais. Adoecemos coletivamente.

A ansiedade é a preocupação demasiada com as necessidades primárias e as secundárias, as necessidades básicas e as supérfluas, as necessidades reais e as imaginárias. Constante e prolongada, a ansiedade pode levar a pessoa a adquirir úlcera, colite, asma, doença do coração e outros distúrbios orgânicos. Mas quando não mistura os problemas de ontem com os problemas de hoje nem os problemas de hoje com os problemas de amanhã, a pessoa não ansiosa, então, em paz se deita e logo pega no sono.

A ansiedade tem alguns sintomas como: Preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar); Sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer; Preocupações exageradas com a saúde, dinheiro, família ou trabalho; Medo extremo de algum objeto ou situação em particular; Medo exagerado de ser humilhado publicamente; Falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade; Pavor depois de uma situação muito difícil.

Com palavras ternas, Jesus tentou convencer a prestativa irmã de Maria e Lázaro de sua ansiedade: “Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! ” (Lc 10,41). No sermão da montanha, Jesus faz todo o esforço para acabar com a ansiedade, seja qual for a sua natureza e a sua intensidade. A receita é simples: “Não se preocupem! ”, “não se preocupem! ”. Não se preocupem com as coisas básicas, como comer, beber e vestir, e muito menos com todas as demais coisas.

A ansiedade só acaba com a contínua entrega de toda dificuldade, todo aborrecimento, todo imprevisto, toda decepção, todo desafio, toda dor nas mãos de Deus, por meio de orações precisas e corajosas. Quando a ansiedade começar a agitar o coração para levar a pessoa à confusão mental, e ao desespero emocional, a atitude correta, inteligente e simples é abrir-se completamente diante do Senhor, sem esconder dele coisa alguma. É necessário livrar-se do incômodo da ansiedade o mais depressa possíve

O incômodo da tentação

(Padre Jeferson Luis Leme)

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Texto bíblico: 2Sm 11.2

Quantas vezes ouvimos falar em tentação?  Ou quando nos sentimos tentados a algo?  Tentação é o convite quase diário feito pela pecaminosidade latente, pelas circunstâncias da vida. É claro que aqui vale lembrar nossas tendências e o nosso lado egocêntrico. Tentação, na verdade, é uma experiência desagradável que dura a vida inteira, com possíveis intervalos de curta duração. No Evangelho de Lucas registra que o diabo, depois de “tentar Jesus de todas as maneirar, foi embora por algum tempo”, esperando outra oportunidade (Lc 4.13).

A tentação provoca um sério atrito entre a boa, agradável e perfeita vontade de Deus e a vontade do pecado (aqui as nossas estruturas egocêntricas e as tendências). Uma oferece resistência a outra. A pessoas cai em pecado quando sacrifica a vontade de Deus para realizar a vontade que naquele momento toma conta de si. Vamos lembrar quando Jesus disse; “Daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que de Deus”. Ao ver “uma mulher muito bonita tomando banho”, o rei Davi passou por cima de tudo e fez a vontade da tentação.

Na Carta de Tiago (1.14), nos ensina que “as pessoas são tentadas quando são atraídas e enganadas pelos seus próprios desejos”. Sendo assim, agimos egocentricamente sem pensar no próximo, frisando somente os nossos desejos, buscando a felicidade nas coisas, sistemas e pessoas, caído na tentação.  A tentação pode ser uma mera sugestão interna (que procede da carne), externa (que procede do ambiente) ou etérea (que procede das forças espirituais do mal que vivem nas alturas).

A tentação é exposta, mas nunca imposta. Negar-se a si mesmo dia após dia, principalmente na hora da tentação, é a única maneira de não ceder ao convite pecaminoso. Jesus diz: “Se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Ora, não há mistério em negar-se a si mesmo. Isto é, é dizer um corajoso e persistente não aos desejos provenientes da tentação, das tendências e das estruturas egocêntricas elaborando e compreendendo a vida.  Por quantas vezes? Todas as vezes que forem necessárias e sem a menor perda de tempo. Quanto mais se demora em dizer não, mais difícil torna-se a vitória sobre a tentação. Lembre-se que a pessoa tentada precisa ser humilde e admitir que não é fácil vencer a tentação. Ela precisa de forças que vem de cima e de domínio próprio.

Para concluir, penso que umas das orações poderosa é a Oração do Pai Nossa. Lá, Jesus nos ensina a pedir: “Não nos deixei cair em tentação, mas livra-nos do mal, Amém! (Lc 6.13).

 

Onde está Deus na Depressão?

(Padre Jeferson)

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Texto bíblico: Livro de Jó

Todos nós sabemos que a depressão é um estado de sofrimento psíquico caracterizado fundamentalmente por rebaixamento do humor (isto é, do estado afetivo básico apresentado pela pessoa), acompanhado por diminuição significativa do interesse, prazer e energia. Normalmente, acrescem-se alterações do sono e apetite, retardo psicomotor, sensação de fadiga, falta de concentração, indecisão, diminuição da autoconfiança, pessimismo, ideias de culpa, desejo recorrente de morrer, entre outros sintomas. Depressão deve ser diferenciada de tristeza, que é uma experiência humana universal e esperada diante de experiências desfavoráveis, como o luto, por exemplo. O diagnóstico de depressão implica na correta avaliação das características e intensidade dos sintomas, bem como o tempo de evolução e suas repercussões.

Nessa situação de depressão nos perguntamos onde está Deus. Como exemplo bíblico, temos o Livro de Jó que relata uma depressão profunda que Jó vivencia em sua vida. Principalmente quando ele perdeu todos os seus bens – era um homem mais rico do oriente – e todos os seus filhos em um único dia (Jó 1.13-22). Perdeu sua saúde (Jó 2.1-10) e sua elevada posição social (Jó 19. 9; 30.9-11). Perdeu a solidariedade religiosa da esposa (Jó 2. 9-10) e sofreu críticas tremendamente injustas da partes dos amigos (Jó 4. 1-11). Tudo isso o levou a uma grande depressão cuja proporções ele mesmo descreve: “Não sou capaz de me ajudar a mim mesmo, e não há ninguém que me socorra” (6,13). “O meu coração está cheio de amargura” (7,11). “Detesto a vida; não quero mais viver (…) minha vida não vale mais a pena” (7. 16). “Agora já não tenho vontade de viver; o desespero tomou conta de mim” (30. 16). “O meu coração está agitado e não descansa (…) levo uma vida triste, como um dia sem sol” (30. 27-28).

Em meio a essa sentida depressão, Jó soube manter a fé e a esperança em Deus: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (19. 25). O que esperava aconteceu: “O Senhor abençoou a última parte da vida de Jó mais do que a primeira” (42. 12). O Deus dos Cristãos, o Deus da revelação, o Deus das Escrituras é uma pessoa que ama, que se apaixona, que enxerga e enxuga lágrimas, que ouve e responde à oração que se compadece da fraqueza humana e perdoa pecados, que compreende o ser humano e o trata com bondade e paciência, que gosta de ser chamado de Pai Nosso.

Ao contrário da visão pessimista de Epicuro, o Deus dos cristãos não é nem impotente nem mau. Ele quer e pode eliminar o mal do mundo – à sua maneira e a seu tempo. A culminação dessa obra aguarda a volta em poder e muita glória daquele que é chamado de Emanuel, que quer dizer “Deus conosco”. Sendo assim, para aprender a lidar com sabedoria e acerto com os incômodos da presente vida, não é preciso esperar o fim do mundo. Por ser uma realidade acima de qualquer outra realidade ou por ser uma ficção criada ou alimentada pela preocupação com a morte, “a ideia de Deus jamais morrerá, ou melhor, morrerá apenas com o último homem”.

 

Rezar sem neurose ( Inspirado nos Escritos do Frei Neylor Tonin)

(Padre Jeferson)

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Texto bíblico: Evangelho: Mt 6, 7-15

Quais as formas e os meios que rezamos? Como rezamos? O que rezamos? Não só rezar, mas, também e principalmente, ser religioso sem neuroses. É um desafio para todos nós. Acredito que tudo que façamos deva ter um pouco de neurose. Será? Na verdade, a oração é apenas uma manifestação de um jeito mais amplo de ser religioso, que pode ser feliz ou triste, alegre ou amargo, adorante ou farisaico, alimentador ou condenatório, livre ou neurótico. Este jeito pode, tristemente, caracterizar-se por expressões de modos e inseguranças, de preguiças enfastiadas ou de falsa compreensão relacional, de falta de aprumo espiritual ou de pessoas apresadas e insatisfeitas, de comandos intempestivos e desmandos intemperantes.

Rezar não é fácil. Na reza ou na oração deve ter um sentido para a vida, isto é, um sentido mais profundo para a vida. Rezar bem, com a alma e coração, com intensidade e pureza interiores, com despojamento e olho espiritual, não é coisa para marinheiros de primeira viajem ainda fascinados pelo turbulento revolver-se das aguas e enamorados por seu fascínio, mas desconhecedores de seus perigos. Rezar é bom e necessário, é até gostoso e inebriante, mas os grandes orantes sentiram na pele e ensinaram, em seus testemunhos e memórias, que não é fácil contemplar o invisível onde se esconde o rosto do Amado, de Deus.

Sendo assim, a alma que tanto deseja Deus, sofre imensamente pela insatisfação de ser tão pouco dele e de tão pouco poder amá-lo e sentir-se por Ele amado. Por que sentimos isso. Porque somos corpo, corpo pesado de concupiscentes sentidos físicos, quão difícil nos é mergulhar no invisível! Nesse meio ao colapso, não sabemos o que pedir ou a oração que fazer ou a graça que desejamos. Na verdade a grande graça a ser pedida, neste estágio do itinerário espiritual, será a da perseverança e a do não-desespero diante do aparente desaparecimento de Deus.

Há, na vida religiosa (de oração), um meio-termo que é insatisfatório e nele se revelam as neuroses de nossa relação com Deus. Este meio-termo se caracteriza por um desenfoque da verdadeira oração, no qual Deus é o centro e o que reza se põe de joelhos. Quando ocorre o contrário, isto é, quando é o orante o centro e Deus é apequenado, ficando a serviço das necessidades de quem reza, a oração ganha traços de neurose e perde a fecundidade da graça divina. O que consistem esses traços neuróticos? Consistem em adulterar a natureza das coisas e das pessoas, de Deus e do orante. Estabelece-se uma inversão de importância, ficando Deus como o criado-mudo da história e o orante como o protagonista do discurso e da ação.  O orante, sendo mendigo, comporta-se como patrão, e Deus, sendo Senhor, é tratado como empregado. A oração não passa, então, de um enlouquecido cozinhar das carências humanas e não se dirige a Deus Senhor e doador das graças. Estas são exigidas como expressão da pobreza humana, e não como escuta e deferimento da generosidade e bondade divinas.

As pessoas dizem que reza tanto e Deus não atende, ou ainda rezo muito e Deus me atende. Em ambas os casos, não há uma fé explicita em Deus, mas sim apenas estados emocionais prementes e assustador ou neuroses. Nestes casos, a oração não tem alma de adoração e de encantamento, mas se materializa como atropelo de um espirito que manda comanda, que exige e cobra os dividendos da fé. É preciso atentar para este tipo de apequenamento de Deus e para este comportamento espiritual, lembrando-se de que Deus nos atende porque é Deus e nos ama, e não porque acreditamos nele.

A verdadeira oração se fundamenta num pressuposto existencial: quem reza reconhece e exalta a grandeza de Deus, ao mesmo tempo em que aceita e confessa sua insignificância. Não-neurótica é a oração que tem como centro e endereço Deus.

 

 

 

Procurar entender-se

(Padre Jeferson)

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Texto bíblico: Evangelho: Mc 7, 14-23

“Conhece-te a ti mesmo”, famosa frase de um filosofo grego. Será que eu me conheço? Ora, somos mais que uma definição conceitual de possibilidades e ideias. Há aqueles que dizem que somos intelecto, psíquico e espiritual. Na verdade somos uma jardim, uma paisagem, muitas vezes desconhecida para nós mesmo. Temos tudo que uma paisagem possa ter. Porém, não percorremos e nem visitamos. Existe até esconderijos sombrios que todos e, até, nós mesmo, tudo fazemos para desconhecer, ocultar e esquecer.

Por isso, Jesus nos alerta dizendo que o que torna o homem impuro é o que sai do interior do seu coração. Ele elenca uma lista que nos torna impuros. Más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. O bem e o mal fazem parte da nossa paisagem. O bonito e o feio vivem de mãos dadas em nosso pequeno mundo. Somos ao mesmo tempo, um animal feroz e uma ovelhinha inofensiva; um urso esfaimado e a pombinha branca e inocente da paz. Se não reconhecermos isso em nós, pode transformar-se em graves frustrações e de desilusões, a longo prazo dolorosa.

 

Nenhum pecado nos afasta mais de Deus e dos irmãos do que a presunção de sermos justos. Paulo é incisivo: “Vocês que buscam a justiça na Lei se desligaram de Cristo e se separaram da Graça” (Gl 5,4). A auto justificação esvazia a justificação. Tira-nos a verdadeira consciência de nós mesmo como miséria e de Deus como misericórdia. Obriga-nos a fazer de tudo, até a amar, mas não aceita que sejamos amados gratuitamente. Desta maneira, o nosso coração continua duro, calcificado, morto, surdo e cego diante do amor e da vida que o amor suscita. Nossos olhos não veem, nossos ouvidos não ouvem (Mc 8,18).

É importante passear pela paisagem de nossa vida (interior) sem nos assustarmos demasiadamente com os minotauros que vivem em nossos labirintos e sem nos encantarmos infantilmente com os leões (vaidade, presunção e prepotências) que circundam nosso mundo mais ensolarado. Uns e outros somos nós. Este entendimento de nós mesmo deveria abrir-nos para uma certa condescendência, que não é aprovação de nossas covardias, mas aceitação de nossas pobrezas e apoio bem-humorado para uma autoestima saudável.

A resposta está em mim. É fato! Mas como encontra-la nessa paisagem que é o meu interior? No aceitar-se a si mesmo há uma capítulo que é, normalmente, muito difícil: o de perdoar-se. Perdoar os outros pode não ser tão difícil, porque nós fazemos, nestes casos, protagonistas da ação. Perdoar a si mesmo já não é tão fácil, porque a ação perde qualquer brilho de vaidade. É algo que se passa na austeridade de um deserto, que tem um único e silencioso espectador: Deus. Aceitar-se e perdoar-se! Não é preciso dizer que estes gestos são fonte de grande alegria.

 

 

 

É DE ESPERA QUE A VIDA SE CONSTRÓI

(Padre Jeferson Luis Leme)

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Queridos irmãos e irmãs do nosso blog, é com gratidão que me dirijo a vocês que estão se preparando para a maior festa dos cristãos. Celebrar o Natal.  A vida é uma espera. Esperamos muito tempo para sermos o que somos hoje e talvez ainda não nos demos como satisfeitos. Espera e desejo são como mutações da vida. A verdade mais profunda do ser humano, é que somos um ser de desejos. Temos desejos de tantas coisa. O desejo renasce a cada buraco preenchido e, de busca em busca, seremos impulsionados para o termo de nossas vidas, quando ainda insaciados e sem ter encontrado neste mundo o que buscávamos, nos projetamos para o infinito, onde esperamos por algo que sacie a sede de uma vida.

Advento é tempo de situar o desejo humano no horizonte de Deus. É tempo de expectativa pelas “coisas do alto”, onde se pode verdadeiramente saciar a sede da existência, bebendo água da fonte. O “desejado” que no Natal se aproxima já se insinua no próprio ato de espera, ou no desejo que lateja. Esse período é a imagem simbílico-temporal da vida humana, orientada para uma realidade que vem se aproximando à medida que rumamos para ela com nossos pequenos esforços, nossas labutas, nossos clamores. É Natal!!!!

O natal é a festividade do nascimento de Jesus, isto é, uma ocasião privilegiada para celebrar e amadurecer na fé e na vida. Infelizmente, preocupados com tantos afazeres do dia a dia, esquecemos o significado do que celebramos. Na verdade celebramos a boa notícia do nascimento do Salvador.

Natal é celebrar a gratuidade. Jesus se fez um de nós por iniciativa própria, por isso, somos chamados a imitá-lo, aprendendo a servir gratuitamente, sempre que possível, não caindo na “falsa solidariedade”. Natal é celebrar a generosidade. Sem que pedíssemos, Jesus veio ao nosso encontro. Somos convidados a imitá-lo aprendendo a agir em favor de todos, e não apenas em proveito próprio. Natal é celebrar a vida. O Filho fez-se um de nós, devolvendo-nos a vida que havíamos perdido pelo pecado. Em Jesus temos a vida em plenitude pelo seu nascimento. Somo chamado a imitá-lo, promovendo e defendendo a vida, desde sua origem até o seu fim natural. Natal é celebrar a misericórdia. Jesus, através de seu nascimento, abriu-nos o coração misericordioso de Deus. Nele encontramos acolhida, conforto e esperança. Hoje somos chamados a imitá-lo, praticando o bem a todas as pessoas, sem exceção.

Natal é celebrar a alegria. No seu nascimento, Jesus trouxe-nos a alegria de sermos filhos e filhas de Deus. Dele recebemos um pai, que é Deus. Sendo filhos e filhas de Deus, devemos aprender a viver com alegria a nossa fé. Natal é celebrar a conversão. O Filho fez-se um de nós, chamando a todos para abandonar o mal e escolher o bem. Ao trocar de vida, trocamos de caminho, fazendo em tudo a vontade de Deus. Hoje somos chamados a imitá-lo, convertendo-nos diariamente, até o nosso encontro definitivo com Ele que é o maior desejo do ser humano. Natal é celebrar a luz. No seu nascimento, Jesus iluminou a humanidade a partir de Israel, o povo da Aliança. As trevas foram vencidas pelo esplendor do menino Deus. Devemos imitá-lo iluminando e transformando, com nosso testemunho, a injustiça em justiça, o desamor em amor. Natal é celebrar a . Jesus nasceu apontando-nos a fé como caminho terreno para o encontro com Deus. Quanto maior a fé, maior a presença e a comunhão com Ele. Hoje somos chamados a imitá-lo, amadurecendo na crença e na adesão a Deus. Natal é celebrar a comunhão. O Filho fez-se um de nós, comungando conosco sua divindade e assumindo a nossa humanidade, fragilizada pelo pecado. Hoje somos chamados a imitá-lo, estando em comunhão permanente com Deus e com o próximo. Por fim Natal é celebrar o amor. Jesus nasceu em Belém como expressão máxima e íntima da presença divina para a humanidade. Portanto, somos chamados a imitá-lo, amortizando todo o nosso relacionamentos, a começar pelas nossas famílias.

Como será o seu Natal neste ano? O menino Jesus encontrará lugar e abrigo em seu coração e em sua família? O seu Natal será de fato cristão, isto é, terá Jesus Cristo com o centro da festa? Alegria, paz, acolhida e perdão farão parte dos presente e ingredientes para o Natal que você oferecerá às pessoas, especialmente à sua família e comunidade?

Que o menino Jesus possa nascer nos corações. Que haja paz, alegria e harmonia na vida de todos nós. Desejo a todos um Feliz e Santo Natal. E que 2014 seja abençoado e agraciado por Deus!!!!

(Nota do editor do blog: Esse texto expressa a ideia de seu autor)

Angústia em relação a morte

(Padre Jeferson Luis Leme)

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(Texto bíblico: Mt. 26, 36 – 45)

O texto que escolhi para nossa reflexão, relata a angústia que Jesus passa diante da insegurança, do medo da morte. Angustia que todos nós passamos diante de uma situação de morte, ou seja, quando estamos num velório de um ente querido que acaba de falecer. Ainda mais quando a morte de uma pessoa muito próximo, nos leva a refletir que um dia nós também iremos passar pelo “processo” da morte. Aí vem a angustia que nos leva ao nada.

Na psicanalise, sinal de angústia é a expressão usada por Freud para designar um dispositivo racional que o ego põe em ação diante de uma situação de perigo, para evitar ser dominado pelas excitações desagradáveis. O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reação de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesas. Freud também fala sobre a angústia automática que é a reação do sujeito sempre que se encontra despreparado e submetido a uma situação traumática, isto é, submetido a um afluxo de excitações, de origem externa ou interna, em que é incapaz de dominar. Para Freud, a angústia automática opõe-se ao sinal de angústia que é a preparação racional para evitar a Angústia Automática.

Para Heidegger, é o nada que nos leva a angústia. Pois, o nada é a plena negação da totalidade do ente. O nada se revela na angústia, mas não enquanto ente. O nada nos visita juntamente com a fuga do ente em sua totalidade. Na angústia se manifesta um retroceder, esse retroceder recebe seu impulso inicial do nada. A nadificação não é nem uma destruição do ente, nem se origina de uma negação. O próprio nada nadifica.  É a experiência do nada, não intelectual, mas emocional, que gera o sentimento de angústia (aceitação da própria finitude).

A aceitação da própria finitude é importante para todos nós. Jesus passa pela experiência da angústia e aceita sua finitude como homem. Por isso é importante ter um sentido para vida. A morte é, em si, desesperadora para todos, até mesmo para os animais, e parece só não sê-lo para os que vivem a vida com extraordinária grandeza e na luz de uma grande fé. Esta fé, diga-se a bem da verdade, não precisa ser religiosa ou transcendente, com a qual se acredita e professa explicitamente a Deus e a existência de uma vida pós-morte.

Qual é a nossa angústia? Primeiro, a vida é um valor, em si, e uma graça, a mais palpável de todas, e quanto mais se encarece seu valor, menos se deseja perde-la. Segundo, quase ninguém se sente preparado para morrer, e à morte se seguirá, nos dizem as religiões, a hora-da-verdade, uma espécie de ajuste de contas, o juízo de Deus. Terceiro, dá medo saltar no escuro, no desconhecido, que é morrer. Mesmo que a vida não tenha sido aquela maravilha. Quarto, o mais grave, alguns pregadores estão longe de passar uma imagem positiva de Deus que encontraremos após fechar, em definitivo, os olhos para este mundo. E quinto, morrer é perder, e perder total e irremediavelmente o que já estamos perdendo, embora a conta-gotas, dia após dia. Esta é a lógica da vida que morre. O ser humano é único ser que sabe de sua mortalidade e convive com o fantasma da finitude, do sofrimento, da morte.

A morte, que ocorrerá num momento, sendo a última experiência humana de toda uma vida, é apenas o passo derradeiro de uma caminhada. Na verdade, vivemos morrendo a cada dia. Morrer, por isso, não é uma tragédia, quando se aprende a morrer, com consciência, a cada dia que se vive e, simultaneamente, morre.  O homem, por ter consciência de sua finitude, passa a vida preocupado com o tempo, na intenção de ter controle sobre a própria vida. Diante da finitude da vida e tendo consciência da vida e da morte, lidamos com a nossa fragilidade como pessoas e aprendemos a cultivar o hábito do cuidado.

Com esta fragilidade consciente, descobrimos que a vida, por não ser eterna, cobra atitudes responsáveis. Afinal, não podemos perder tempo e vivemos com responsabilidade para conseguir dar para a vida e tirar dela, da maneira mais urgente possível, aquilo que desejamos. Para Frankl a pessoa humana tem um Deus, uma religiosidade inconsciente. Segundo Frankl, cada pessoa tem uma instância que não é atingida por nenhuma patologia, é incorruptível e lúcida ainda que a doença e o sofrer sejam infinitos. Esta é a dimensão no ética (dimensão espiritual do homem), a espiritualidade imaculada, o Deus vivo na intimidade da pessoa humana.

A vida está repleta de oportunidades para dotá-las de sentido. A vida humana tem sentido sempre e em todas as circunstâncias, e esse infinito significado da existência também abrange sofrimento, morte e aflição.  … nossa luta, nossos esforços não perdem seu sentido e dignidade (Viktor E. Frankl).

 

 

 

Auto-estima estável

(Padre Jeferson Luis Leme)

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Texto bíblico: Mc 12, 13-17.

Já parou para avaliar sua auto-estima? Sabia que dependendo das nossas atitudes, a auto-estima sofre alterações? A leitura do Evangelho nos convida a buscarmos um equilíbrio diante das nossas atitudes e principalmente a conduta. “Devolver a Cesar o que é de Cesar. E a Deus o que é de Deus”, é a resposta que Jesus nos dá diante das dificuldade, desafios e frustrações que a vida nos proporciona.

É dever nosso buscar um equilíbrio estável da auto-estima em nossas vidas. Estar com a auto-estima alta ou baixa não é bom para a nossa convivência com as pessoas. Quando estamos com a auto-estima alta, desenvolvemos uma alta expectativa de receber reconhecimento dos outros para estarmos feliz. – Provavelmente seremos reativos, ao sermos contrariados pelos mais fracos – lado demo e passivos, lado anjo, com os mais fortes, com aqueles que podem nos prejudicar. Dificilmente negociaremos com os outros e só desenvolveremos a empatia se houver algum interesse de recebermos algo. Provavelmente, quando mantivermos cronicamente nossa auto-estima num nível elevado, superdimensionado, de energia emocional estabeleceremos alguns dos comportamentos egocêntricos como a vaidade, a arrogância, a prepotência, o orgulho, a presunção etc. Agiremos com hipocrisia, com predominância do lado anjo que busca reconhecimento, agindo de forma imatura e passiva para não perder a estima, a aceitação e o amor dos mais fortes, mas geralmente por trás agiremos como um demo, criticando, falando mal etc.

Caso estamos com a auto-estima baixa, desenvolveremos uma alta expectativa de receber segurança, atenção cuidados etc, dos outros para estarmos felizes. – Provavelmente agiremos com passividade. Como Anjo perante os mais fortes, lado anjo que busca proteção e preservação, entretanto, provavelmente seremos reativos por trás, lado demo. Nisso nos leva ao sentimento como a covardia, egoísmo, ciúme, preguiça, inveja, mágoa, culpa, tristeza etc.

E quando estamos com a auto-estima estável, que é o ideal para todos nós, teremos uma baixa expectativa de receber segurança e reconhecimento da vida para estar feliz. – Predominância do Ego que se avalia empaticamente. Provavelmente agiremos de forma educadora, pacífica e empática. A auto-estima estável é a resultante do estado de negociação do ego com as suas e com as necessidades dos outros. Provavelmente, ao mantermos a nossa auto-estima, num nível mais estável de energia emocional, estabelecermos os seguintes comportamentos: capacidade de compreensão, tolerância, paciência, cooperação, amar mesmo não gostando.

Procure estabilizar a sua auto-estima frente às adversidades, reduzindo as suas expectativas de receber segurança e reconhecimento da vida para estar feliz: através das pessoas, das coisas e dos sistemas. Sofreremos menos e procuraremos não fazer os outros sofrerem, pelo desenvolvimento da compreensão: da paciência, da tolerância e da resignação. Exigiremos muito mais de nós e menos dos outros, entretanto, não desenvolveremos a culpa doentia, nos perdoando pela compreensão que possuímos da importância, para a nossa evolução, de cada queda na vida. Como está a nossa Auto-Estima?

Aprender a arte de perder (Inspirado dos escritos do Frei Neylor Tonin)

(Padre Jeferson Luis Leme)

Texto bíblico: Lucas 18, 31-330

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Como é difícil perder. Não só é difícil como também não admitimos a derrota. Todo mundo sabe que não é bom perder, e muito menos só perder, mas não se pode pretender ganhar sempre. Um eterno derrotado corre, quase que inevitavelmente, o risco de um azedume sem tamanho, enquanto que a volúpia de vitória a qualquer custo pode ser expressão de uma postura pouco sadia e normal. Buscar sempre a vitória, aliás, é marca registrada de temperamentos duros e intolerantes, próprios de tiranos, que não conseguem viver sem aplausos e sem cortejo. Por isso é imperioso vencer paradas e adversários. Essas vitórias, no entanto, não lhes proporcionam nem paz nem alegria, pois vivem derrotados diante de si mesmos.

Mais do que derrotas ou vitórias, sempre relativas, sobre coisas e causas passageiras, é o aprumo espiritual e a dignidade pessoal que devem ostentar vencedores e derrotados. A grande e única derrota a ser evitada é a de nível interior, a derrota do caráter. Podemos ser derrotados, mas não podemos fazer-nos uma derrota, o que teria consequências trágicas em nossas vidas. Por isso a importância de não perder a linha e o passo, de não se deixar acender, mas de agir com grandeza em quaisquer circunstancias, nunca contra os outros, porém sempre em favor de causas nobres e de grandes ideais; só isto é que nos ensinaria a arte de perdermos sem nos autoderrotar.

Um exemplo disso é a pessoa de Jesus Cristo, que foi destruída, viu se frustrarem seus sonhos, seus ideias e as sementes do Reino que pregava, mas não perdeu sua fé no poder de Deus. Morreu reconciliado com seus algozes e com Deus, embora vencido.

Tanto quanto vitoriosos em coisas e causas, somos todos, em menor ou maior escala, grandes perdedores. Perder não é nenhum desdouro. É condição de vida, é pão nosso de cada dia. Para não vivermos como perdedores temos que aprender a arte de perder sem nos lamentar perdidamente e lutarmos para fazer de nossa vida um exercício de crescimento e maturação.

“O navio no estaleiro está seguro. Mas os navios não foram feitos para isso” (William Shed). A necessidade de segurança em nossas vidas é fundamental e motivadoras para nossa luta. Viver é risco. Vencer, ser vitorioso, correr o risco de perder e ser derrotado. Não há segurança absoluta. Assim como os navios, também nós não somos feitos para vivermos seguros em um estaleiros. Precisamos explorar a vastidão da vida, ganhando e perdendo, ousar viver. Senão tudo fica sufocante. Quem quer viver sabe quão perigosa é a vida, não só pelos perigos que vêm de fora, mas os perigos que carregamos nos abismos de nossas almas, a escuridão e o desamparo, a solidão e as aflições e as derrotas.

Devemos em nossa vida abraçar nossas derrotas, abraçando-se. Não deixemos de sorrir suavemente, quando a arte de viver nos pede a sabedoria de saber perder. “Aprendi com a primavera a me deixar cortar para voltar sempre inteira” (Cecília Meirelles).

Deus é amor

(Padre Jeferson Luis Leme)

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Texto bíblico: 1Jo 4, 7-1

Muitos acreditam que Deus não existe. Como provar? Aos que digam que Deus não existe pelo fato da violência, da brutalidade contra a vida humana e a desigualdades que existem no planeta. Aos que digam que Deus é uma simples invenção do homem para a manipulação das massas. Bom tudo isso passa pelas nossas mentes, porém, quando o “sinto aperta” recorremos a Deus. É a partir daí que vamos falar um pouco sobre esse Deus que é Amor.

O autor da leitura da Palavra nos fala que o critério para sermos filhos de Deus, é o amor. “Amemo-nos uns aos outros, já que o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor”. Aqui o verbo “conhecer” tem a profundidade bíblica da experiência e do contato pessoal. O conhecimento de Deus, que é a fé e o amor dão a cada um de nós, é imensamente superior ao intelectualismo filosófico ou gnose platônica.

Na Bíblia, na teologia cristã e na histórias das religiões e da filosofia há múltiplas definições de Deus: São João diz que Deus é amor. Eis aqui uma definição sempre atualizada e uma teologia inteligível para o homem de todos os tempos e lugares. É a partir da revelação do Deus-amor havia de nascer o cristianismo-amor de Jesus.

Dizer que Deus é amor é afirmar que não é só uma pessoa que ama, mas que é o amor mesmo em pessoa. Por isso, como poderemos ser filhos nascidos de um Deus que é amor se não amamos nós também? E como poderemos dizer que o conhecimento se não amamos a ele e aos filhos, os homens?

Nesse sentido, podemos dizer que a crise de amor é crise de fé, porque a fé cristã é acreditar em Deus que é Amor, com maiúscula, e a fonte transbordante e inesgotável do mesmo. Daí a afirmação de São João: todo aquele ama nasceu de Deus e conhece-o. É o amor que facilita o conhecimento das pessoas e a aprendizagem das coisas, das profissões e dos ofícios. Nesse sentido, quando uma pessoa ama o seu trabalho, dizemos que tem vocação para ele; é o amor que lhe dá a competência e a ajuda a decifrar mistérios inexplicáveis.

No diálogo da fé que leva ao conhecimento de Deus, é ele que tem a iniciativa; isto é, é o primeiro que ama, oferecendo a sua amizade e admitindo-nos no círculo aberto do seu amor trinitário para fazer-nos seus filhos e filhas por amor. São Paulo, que refletiu muito sobre tudo isso, afirma que “Deus escolheu-nos, na pessoa de Cristo, antes de criar o mundo…, e destinou-nos, por pura iniciativa sua, a sermos seus filhos. O tesouro da sua graça… foi uma riqueza para nós” (Ef 1, 3ss). Por isso, definir Deus como amor não é uma mera gratificação afetiva nem uma efusão poética, mas sim, uma realidade fascinante.