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Vaginismo

(Paulo Jacob)

vaginismo

Olá!

Hoje vou falar com vocês sobre um problema que atinge muitas mulheres, o vaginismo.

Podemos definir o vaginismo como um espasmo involuntário dos músculos da região da vagina, causando o fechamento da entrada da vagina, ou seja, mulheres que tem vaginismo não conseguem ter relações sexuais, pois a dor que sentem com a penetração do pênis é muito grande.

As causas para que isso aconteça podem ser físicas e não-físicas. As físicas seriam problemas de saúde, parto normal e consequências, mudanças hormonais (com a idade) etc.

Dentre as não-físicas podemos citar ansiedade e estresse, traumas de abuso sexual, problemas de relacionamento (desconfiança do parceiro, ou do novo parceiro) e educação rígida, entre outros.

No consultório vejo como a educação rígida dos pais (e também a religião) com as meninas, que relacionam o sexo como algo ruim, sujo, pecado, e acabam futuramente causando problemas como o vaginismo nas mulheres. Quantas de vocês não ouviram quando criança ou adolescente, que por inocência (ou não..) se tocavam, descobrindo o  seu órgão genital, e foram condenadas por estarem agindo dessa maneira?

Aí quando surge uma oportunidade de sentir prazer, vem uma culpa recalcada que na maioria das vezes as pessoas não lembram, e que causa esse fechamento da vagina, impedindo da pessoa ter relações.

Uma das maneiras de se resolver é fazer com que a pessoa entenda que hoje ela não é mais aquela criança, que ela não precisa ter mais medo de nada, e muito menos culpa! Que hoje ela é uma mulher, que gosta sim de sentir prazer, e que ela irá se dar a oportunidade de ter relações sexuais com penetração! Existem outras formas de se tratar isso, dependendo do quanto isso está enraizado no inconsciente da pessoa, mas o início é o que citei acima.

Desconsiderar os fatores físicos no problema do vaginismo seria um erro, mas quando uma mulher chega no consultório, e fala que já foi ao médico, fez exames e que nada foi encontrado, aí o problema sem dúvida é psicológico. E mesmo que exista algo físico, até que ponto esse problema não foi causado pelo psicológico da pessoa? Então, o acompanhamento de um terapeuta auxilia e muito na solução desse problema. É o mesmo caso em relação aos problemas masculinos de ereção e ejaculação precoce, mas isso eu vou escrever um outro dia.

O nosso inconsciente age no nosso consciente muito mais do que imaginamos, então se existe algo que está causando isso, não serão tratamento mágicos que são vendidos no mercado que irão resolver isso. De nada adianta tratar do sintoma, se a causa que criou isso não for descoberta.

Tenham uma ótima semana!

Rivalidade Fraterna: amor e ódio na relação entre irmãos

(Claudia Pedrozo)

irmaos

Ficar numa fila de banco é algo que todos detestamos, não é? Mas sempre se pode aprender um pouco mais sobre a vida quando ficamos lá, em pé ou sentados, de orelha na conversa alheia. Acreditem filas de banco são ótimos laboratórios!

Nesta semana fiquei a escutar, sem querer, mas já escutando, a conversa de duas comadres. A comadre “X” contava para a comadre “Y”sobre as dificuldades que seu filho e sua nora estão enfrentando com a rivalidade entre seus dois netos, uma menina de oito anos e um menino de quase sete. Segundo a vovó “X”, toda vez que o filho compra algo para o menino mais novo, obrigatoriamente tem que comprar para a menina mais velha. Ai dele se não comprar!!! A garota faz um dramalhão mexicano, tipo ninguém me ama, ninguém me quer… E, num ataque raivoso, briga e fala coisas horríveis para o irmão e para os pais. A família, segundo Dona “X”, está em pé de guerra. A briga entre os filhos está começando a afetar os pais, que sem saber como agir, acabam brigando entre si. Sentem-se culpados e impotentes diante da filha e acabam cedendo aos caprichos da garota, comprando-lhe algo , que ela geralmente não valoriza e que fica jogado num canto, logo após o recebimento.

Como sofrem – ou melhor como querem sofrer – as avós! Dona “X” está preocupadíssima, porque a neta está ficando insuportável e os pais não aceitam ajuda e conselhos da experiente senhora! E com tudo isso ela está vendo a neta se transformar numa pequena déspota, por culpa dos próprios pais.

Coçou minha língua para palpitar na conversa das duas senhorinhas, mas me contive. Pelo menos lá no banco. Afinal minha mãe sempre disse que ouvir conversa alheia é falta de educação! Mas como já flexibilizei meus valores, nesse quesito, resolvi falar sobre esta situação aqui.

A rivalidade entre irmãos é algo bíblico, natural e faz parte do desenvolvimento humano aprender a conviver com o outro. Quem tem irmãos sabe que aprendizado é este. Quem não tem irmãos, com certeza tem primos, o que dá quase no mesmo em termos de aprender a dividir na marra!

A família é o primeiro laboratório para essa aprendizagem. Quando nasce uma outra criança, o primogênito sente-se, naturalmente, ameaçado e preterido. Acredita, sente, imagina que perdeu o amor de seus pais, avós, tios, enfim de todos os adultos da família. Diante disso sentimentos ambivalentes – amor e ódio – por este “intruso” despertam. O resultado é que disputam, brigam até pelo ar que respiram, enlouquecendo os pais.
Como agir diante dessa situação?

Em primeiro lugar os pais devem deixar claro para o filho mais velho o quanto o amam, em palavras e em atitudes. A criança precisa sentir-se segura desse amor, precisa entender que não deixou de ser amada só porque o “outro” nasceu. É evidente que ela testará os pais e estes, muitas vezes sentindo-se culpados, porque naturalmente socorrem o caçula, acabam embolando todo meio de campo, quando entendem que o filho para sentir-se amado precisa ser comprado.

Crianças são mais espertas do que parecem e nos fazem de bobos sem que percebamos! Por isso devemos ter cuidado e prestar atenção no quanto estamos sendo manipulados e no quanto nos deixamos manipular, em nome de uma consciência “tranquila”.

Sugiro aos pais que sejam mais presentes, que dividam o tempo e as tarefas e se organizem para prover o mais novo, atendendo às suas necessidades e para passar um tempo junto com o filho mais velho. Um tempo de qualidade, onde não haja cobranças e comparações. Onde a criança, com o auxílio dos adultos, possa entender as necessidades do caçula e as dificuldades dos pais. Para isso diálogo é fundamental.

Todos nós queremos ser amados e valorizados… isto faz parte das nossas necessidades básicas. Ao receber de “presente” um irmãzinho, sem o devido preparo (já que muitas famílias fantasiam este momento como se fosse tudo lindo e perfeito, como se o caçula já nascesse grande e não desse trabalho e que pudesse ser o companheiro que o outro irmão deseja) a criança naturalmente vai “surtar”( afinal de uma hora para outra parece que ela ficou invisível, que todos só têm olhos para o caçula) e a única solução é fazer-se presente através da rivalidade com o outro.

Cabe aos pais serem os adultos nesta relação. Educar algumas vezes dói e sempre dá trabalho! Mas dar amor e segurança ao filho mais velho pode poupar uma série de dores de cabeça futuras. Para quem quiser se aprofundar no assunto, sugiro os livros:

“Entendo a rivalidade entre irmãos”, dos autores Joshua D. Sparrow e T. Berry Brazelton, da Editora Artmed (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=1223955&sid=7351302311578499576232418)

“Rivalidade Fraterna – o Ódio e o Ciúme Entre Irmãos”, da autora Nise Britto, Editora Agora (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=665043&sid=7351302311578499576232418)

“Irmãos ciumentos, irmãs egoístas – Dicas para enfrentar a rivalidade entre os irmãos”, do autor Ted O’Neal, Editora Paulus
(http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=5067400&sid=7351302311578499576232418)

Talvez Vovó “X” pudesse sutilmente dar um destes de presente ao filho…

Amor e segurança custam pouco. São mais baratos do que os subornos que os mais velhos muitas vezes cobram, como forma de tributo sádico aos pais culpados e algumas vezes mal resolvidos (porque alguns pais já viveram esta mesma situação, num outro tempo, e agora simplesmente atualizam seus recalques).
Amor e segurança custam pouco… um pouco de muita atenção. Pensem nisso.

Qual é o poder da crença?

(Dra. Karen Câmara)

birra

Na semana que passou, conversei com uma mãe que me disse o seguinte:
“Meu filho está doente porque quer comer um sorvete e eu não encontro para comprar.”

Ela contou que o filho, de dez anos de idade, havia visto a propaganda desse sorvete na televisão e isso teria despertado nele tamanha vontade de consumir a guloseima que ele, agora, apresentava sintomas de dor na barriga e febre.

Ora, do ponto de vista médico, sabemos que dor é um sintoma subjetivo, não há como comprovar ou mensurar, mas a febre é um sinal objetivo, fácil de medir, basta usar um termômetro. Sabe-se também, no meio médico, que as crianças tendem a referir dor na barriga quando estão em situação de desconforto ou de estresse. Geralmente essa dor na barriga não é acompanhada de diarreia ou vômitos, dois sinais objetivos. Entretanto, enjoo e inapetência podem, com frequência, compor o quadro. Quando se pedem exames complementares como ultrassonografia, endoscopia, exame de fezes, nada de anormal é constatado. Entre os fatores desencadeantes mais comuns estão a ausência repentina, inesperada ou prolongada de um dos pais, conflitos no ambiente familiar, problemas na escola ou no círculo de amigos da criança. Esse quadro evolui de forma benigna e costuma desaparecer quando a situação estressante deixa de existir.

Perguntei à mãe da criança sobre possíveis causas psicológicas e ela declarou com firmeza que nada havia de diferente ou possivelmente estressante na vida da criança que pudesse ser a causa da dor na barriga. Só podia ser o sorvete.

Perguntei sobre a febre, se ela havia aferido a febre com termômetro. Ela foi muito clara:
“Sim, medi a temperatura dele várias vezes e deu 37,5°C, 38°C e até 38,5°C. A febre vai e volta. Às vezes ela só passa se eu dou remédio”.

Argumento que uma febre é sempre um sinal importante e deve ser investigado. Recomendo que leve seu filho a um serviço médico para ser avaliado. Ela não se deixa convencer, diz que o filho já esteve em consulta recentemente, exames foram pedidos e estão normais. A criança está perfeitamente sadia. O problema é o sorvete.

De sua parte, ela explica que vivem no sítio, são pessoas simples, de poucos recursos mas “nunca faltou o de comer”. Diz, com orgulho, que nunca deixaram a criança “passar vontade”. Parece querer dizer: “Somos bons pais, bons provedores, somos responsáveis, estamos conscientes de nossos deveres para com nossos filhos!”

“Mas agora, dessa vez,” ela acrescenta, “não foi possível fazer a vontade do menino. Já fui à cidade mais perto, procurei em todas as padarias e não consegui encontrar o sorvete para comprar. Então, ele ficou doente.”

Tento arrazoar de outra forma, dizendo que a criança tem dez anos e já possui entendimento suficiente para lidar com situações de frustração. Ela concorda, diz que o filho é uma criança calma, inteligente, sabe perfeitamente aceitar que algumas coisas não são possíveis mas isso em nada resolve o problema. O fato é que ele adoeceu porque está passando vontade de comer um sorvete que ela não consegue encontrar para comprar. E tem mais, toda vez que o filho assiste à propaganda, o desejo volta e ele apresenta novamente os mesmos sintomas.

A conversa terminou sem que se chegasse a uma solução. De um lado, a crença da mãe e, por conseguinte, da criança, que “passar vontade de comer” alguma coisa leva ao adoecimento. De outro lado, o poder de uma mídia televisiva que invade todos os lares e todas as cabeças, despertando vontades irresistíveis.

Uma amiga mais tarde me contou que a propaganda do sorvete é muito bem feita e está ligada a um super-herói que tem forte apelo emocional nas crianças.

Dois dias depois, soube que uma colega médica atendeu um caso muito semelhante. Desta feita, a criança tinha dois anos. Fiquei estupefata.

O que pensar disso? Até que ponto nossas crenças produzem sintomas físicos? Até que ponto adoecemos, física e mentalmente, porque nossos desejos não são satisfeitos?

Você escuta o seu corpo?

(Dra. Karen Câmara)

Injured Jogger is Being Supported

Hoje minha filha me chamou à atenção uma propaganda de medicamento na televisão. Nela, um rapaz está correndo para fazer exercício físico quando, de repente, começa a sentir dor na coxa. Uma voz dentro dele fala “Ai, que dor! Acho que vou parar!”. “Shhhh”, fala outra voz, com a intenção de calar a primeira. Então vem a indicação de que deve usar o medicamento tal, um anti-inflamatório, para não sentir dor e não parar. A dor é vista como um inimigo que deve ser eliminado pelo uso do produto que está sendo comercializado.

Fiquei pasma. Quer dizer então que devemos ignorar o sinal que a dor nos dá que é hora de parar? E, como se não bastasse, devemos calar esse aviso com o uso do medicamento em questão? Isso é um absurdo!

Primeiro porque a dor é um sinal importantíssimo que nos chama à atenção que algo não vai bem ou que fomos longe demais e é justamente hora de parar. Quando ignoramos esse sinal, as consequências podem ser muito sérias. Pode haver lesão grave e até morte. Imagine se a gente se aproxima do fogo e não obedecemos ao aviso de dor. O resultado é uma queimadura grave.

Em segundo lugar, quando existe dor, o que deve ser feito é investigar a causa e removê-la, se possível. A dor é um sintoma e, quando ele existe, devemos entender por que ele está presente e não simplesmente o abolir porque incomoda.

Em terceiro lugar porque, ao mascarar a dor com um medicamento, podemos agravar a lesão que teve início. Imagine que o rapaz da propaganda esteja com dor porque lesou um músculo, um tendão, uma articulação. Quando ele toma o medicamento, a dor melhora de modo a permitir que ele continue a atividade que estava fazendo e danifique ainda mais a estrutura já lesada.

O medicamento indicado é um anti-inflamatório. As pessoas não sabem para que serve, quais são as indicações e muito menos os riscos de usar um anti-inflamatório. Só sabem “que é bom para” dor: dor de garganta, dor na coluna, dor no braço, qualquer dor. Me parece que o uso desse tipo de medicamento é abusivo, tanto por leigos como profissionais da área da saúde. É vendido sem receita médica, é usado sem critérios médicos e sem bom senso.

Para que serve um anti-inflamatório? Para reduzir a reação inflamatória do organismo. Mas a reação inflamatória do nosso corpo tem seus propósitos. Ajudar a combater infecções e reparar lesões estão entre eles. Antes de usar esse medicamento deveríamos nos perguntar: quais são as vantagens e as desvantagens em diminuir a atividade inflamatória nesse caso específico? Será que o medicamento vai ajudar ou atrapalhar a recuperação? Os dois lados da questão devem ser examinados.

A dor, por mais desagradável que seja, é um alerta importante e um recurso vital à nossa sobrevivência.
A dor deve ser escutada atentamente e não abolida indiscriminadamente.
Essa propaganda deseduca e induz as pessoas a se automedicarem de modo insensato e inconsequente.

A adolescência

adolescerA ADOLESCÊNCIA

(Claudia Pedrozo)

Quando recebi o convite para falar sobre a adolescência à luz da Psicanálise, fiquei empolgada e preocupada, afinal falar sobre esta fase tão conturbada e tão bela é uma grande responsabilidade. O que escrever? Na longa trajetória como Diretora numa escola de adolescentes tive o prazer de conhecer e conviver com mil jovens que, junto com meus filhos e seus amigos, me fizeram relembrar minha adolescência e me ensinaram a entender a dor e a delícia de ser adolescente no século XXI!
O Dicionário Aurélio define adolescência como sendo um substantivo feminino cujo significado é “idade da vida compreendida entre a puberdade e a idade adulta”. O Dicionário Médico a define como sendo um “período da vida humana que sucede à infância, começa com a puberdade e se caracteriza por uma série de mudanças físicas e psicológicas, estendendo-se, aproximadamente, dos 12 aos 20 anos”.
Certo. Porém estas duas definições são frias e lendo-as não conseguimos visualizar o turbilhão emocional que é estar na adolescência, nesta etapa da vida onde treinamos o deixar de ser criança para ensaiar o ser adulto, onde mudanças hormonais desencadeiam uma montanha russa emocional que nos faz questionar quem somos e nos leva a enlouquecer nossos pais, ora amados, ora odiados. Viramos sim rebeldes, quase sempre sem causa! O que queremos nada mais é que nos encontrar, questionar e testar nossos limites, queremos ser aceitos, amados, valorizados e reconhecidos. Contestamos e chocamos com nossas roupas,“dialeto”, cabelos, músicas e atitudes. Na busca de encontrar quem somos muitas vezes precisamos, nos “perder” na contestação e no choque! Quem não passou por isso, atire a primeira pedra!
Freud diria que isso nada mais é do que a busca pelo “narcisismo primário”, época em que, bebês, éramos puro id, puro desejo. Onipotentes o mundo todo girava ao nosso redor. Bastava um chorinho para sermos atendidos, saciados, cuidados, A-MA-DOS! Então, eis que alguém, em nosso processo educacional, diz o primeiro “NÃO”! A partir deste momento percebemos a onipotência do outro e resolvemos que queremos ser tão forte e onipotente quanto ele. Passamos a viver o “narcisismo secundário” e pelo resto de nossos dias buscaremos reconquistar a onipotência primária perdida.
Entra em cena a importância da presença de cuidadores amorosos na educação dos futuros jovens. Mas esta é uma próxima conversa!