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A doença tem um propósito?

(Dra. Karen Câmara)

doença

Você já se perguntou por que ficamos doentes? Será por acaso? Será por azar? Será por castigo?

Ninguém gosta de ficar doente. Entre a saúde e a doença, preferimos estar saudáveis. Você percebe que aí existem pelo menos dois aspectos da dualidade? De um lado a saúde e do outro a doença. E, em seguida, a nossa preferência por um dos polos.

Vivemos em um mundo caracterizado pela dualidade. É o claro e o escuro, o quente e o frio, o Yang e o Yin (princípios do Taoísmo, uma filosofia oriental), a vida e a morte, o Bem e o Mal, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino, o gostar e o não gostar, o querer e o não querer. Estamos completamente imersos na dualidade. E sempre nos falta algo, nos sentimos incompletos, imperfeitos, insuficientes. O que será que nos falta? O que é que tanto tentamos compensar com bens materiais, com divertimento, com comida, álcool, drogas, sexo, sem deixar de mencionar tudo que usamos para nos abastecer de provisões narcísicas, como conhecimento, títulos, sensação de poder, honrarias, elogios que nos vêm do outro. Quando nos sentimos aceitos, integrados, nos sentimos bem. Quando o outro nos acolhe, nós nos sentimos amados, nos sentimos maiores, melhores, mais completos. Parece que a separação que existia entre o “Eu” e o “Ele” ou entre o “Nós” e os “Outros” se esvai, se dissipa, deixa de existir. E essa é uma sensação maravilhosa porque temos a sensação que somos uma Unidade.

Essa separação, essa visão que as coisas são duais, é criada pela mente humana. É ela que entende a realidade como dividida em polaridades opostas. Esses dois polos não existem separadamente, um precisa do outro para existir. Eles são opostos e complementares, eles se unem para fazer o todo, o Um, a Unidade.

A Unidade é o que todos buscamos e ela só pode ser obtida pela conjunção dos opostos.

Todos temos uma sombra, que são aqueles aspectos que afastamos o mais possível de nós mesmos; são os aspectos que não desejamos ver, que não queremos reconhecer que existem dentro de nós. Temos muito medo de nossa sombra. Gostaríamos de expurgar essa sombra porque acreditamos que, somente assim, nós e nosso mundo nos tornaremos bons e felizes. Entretanto, acontece justamente o contrário. A sombra contém tudo aquilo que nós e nosso mundo precisamos para chegar à Unidade. Precisamos da nossa sombra para nos integrar. Caso contrário, seremos apenas metades. Metades as-sombra-das o tempo todo. Assombradas pela outra metade.

E o que a sombra tem a ver com a saúde e a doença? Acontece que é a sombra o que nos torna doentes. A sombra nos faz adoecer porque ela é o que está nos faltando.

Vou citar um livro que explica isso muito bem. “Todo sintoma é um aspecto da sombra que se precipitou no corpo físico. É no sintoma que se manifesta aquilo que nos falta… O sintoma usa o corpo como um instrumento para fazer a pessoa tornar-se outra vez um todo…Se uma pessoa se recusa a viver um princípio em sua consciência, esse princípio desce para o nível do corpo e aparece então com sintoma. Dessa maneira, a pessoa é obrigada a viver e, a despeito de tudo, a manifestar o próprio princípio que rejeitou. É assim que o sintoma providencia a totalidade do indivíduo, ele é o substituto físico do que falta à alma.”*

As doenças se manifestam através dos sintomas. Quando somos obrigados a conviver com nossos sintomas, a lidar com eles, a nos perguntar de onde vêm e por que existem, temos a oportunidade de enxergar e reconhecer aquilo que nos falta integrar dentro de nós em nosso caminho em direção à Unidade. E esse é nosso maior propósito. Voltar à Unidade.

Podemos dizer, portanto, que o caminho de cura é sempre aquele que nos torna mais conscientes de nós mesmos e, portanto, é o que nos leva da polaridade à Unidade.

Diante disso, como ficam suas ideias a respeito da saúde e da doença? Será que as doenças têm um propósito? Devemos combater ou abraçar nossos sintomas? Preferimos estar doentes ou saudáveis?

*Dethlefsen, T.;  Dahlke, R. A Doença como Caminho. 15.ed. São Paulo: Ed. Cultrix, 2008. p. 45.

A saúde do imperador-criança

(Dra. Karen Câmara)

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A China foi um império durante milhares de anos. O imperador era considerado a pessoa mais importante do país, inclusive com atributos que o aproximavam de uma divindade. A segurança do imperador era tão crucial que toda uma cidade foi construída em volta do seu palácio, aquilo que hoje se chama A Cidade Proibida em Beijing.

A educação e a saúde do imperador eram de suma importância. Se alguém viu o filme  O Último Imperador do diretor italiano Bernardo Bertolucci, deve se lembrar de uma cena em que o imperador ainda era criança e suas fezes aparecem dentro de um penico.  O médico olha, movimenta o cocô dentro do penico para ver sua consistência, cheira os excrementos e então diz:  “Menos carne”. Ele queria dizer que a alimentação do imperador-menino devia conter menos carne. O médico examinava as fezes do menino para poder ajustar corretamente sua dieta. As ordens do médico deviam ser seguidas pela cozinha do palácio. O imperador-criança tinha que comer o que fazia bem para sua saúde e não apenas o que lhe agradava. Sim, porque a preservação de sua saúde era assunto de Estado. Todo o império dependia dele e de suas decisões. Mas, veja bem, a saúde era preservada. Dizem que os médicos do imperador só recebiam seus honorários enquanto o imperador estivesse com boa saúde. Quando o imperador adoecia, os médicos deixavam de receber seu pagamento. Isso, é claro, era um incentivo para que os médicos se concentrassem muito mais em preservar a saúde do que em curar as doenças.

Educação e Saúde estão tão interligadas, tão entrelaçadas que é difícil dizer qual é mais importante. A meu ver, Educação vem primeiro. Através da Educação é possível melhorar, e muito, a Saúde. As crianças precisam das duas coisas desde o início e, para isso, as mães têm que ser educadas. São elas que cuidam das crianças nos seus primeiros anos de vida. São elas que formam as próximas gerações. Portanto, para criar as crianças, precisamos educar primeiro as mães.

Outro dia uma mãe me disse que a filha, de seis anos, tinha prisão de ventre crônica e muitos gases. Sofria de frequentes dores na barriga e não conseguia evacuar bem. Quando conseguia, eram fezes duras e ressecadas. Perguntei o que a criança comia e a mãe disse que era principalmente arroz, macarrão, pão e bolachas. “Só?”, perguntei eu. “Acontece que ela não gosta de verduras, legumes e frutas”, me respondeu a mãe.

É claro que a filha tinha prisão de ventre. Com essa dieta, seria difícil não ter prisão de ventre. O que está faltando aqui? Educar a mãe, que parece não saber como alimentar a criança. Ora, criança não deve comer apenas o que quer. A mãe tem que saber o que faz bem  à saúde da criança, assim como os médicos do imperador. A mãe deve ajustar a dieta às necessidades da criança. É claro que também tem que adaptá-la ao gosto da criança.  Mas essa mãe não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo e muito menos de como proceder. Então, por conta própria, dava este e aquele medicamento para a criança e nada resolvia. Não resolvia porque ela estava querendo eliminar os sintomas ao invés de lidar com as causas do problema. O problema era a dieta. Uma dieta pobre em fibras, rica em farinha branca, cheia de açúcar refinado, sem as fibras proporcionadas pelas frutas, verduras e legumes. Investiguei mais um pouco, vi que a criança tomava pouca água e bastante refrigerante. Como se não bastasse, fazia pouco exercício físico, ainda mais depois que passou a ter dores na barriga causadas pela prisão de ventre. Estava, então, completo o quadro para que desenvolvesse uma bela constipação intestinal: dieta pobre em fibras, ingesta inadequada de água e pouco exercício físico.

Como solucionar isso? Segundo a mãe, com medicamentos! Sim, por falta conhecimentos, ela dava remédios para a filha, crente que estava fazendo o melhor. Cada vez que ia à farmácia, o balconista lhe empurrava mais um medicamento e ela, toda esperançosa, dava para a criança. Como isso não resolvia o problema, ela achou que os medicamentos eram ineficazes. Foi aí que o caso chegou até mim.

Conversei com a mãe, expliquei que o problema da criança poderia ser resolvido sem uso de medicamentos. Bastaria fazer algumas mudanças na dieta e no estilo de vida. A mãe aceitou as sugestões, implementou as mudanças e depois me disse que a filha havia melhorado.

A mãe teve que ser educada para que a saúde da criança melhorasse.

Falando em Educação, terça-feira foi Dia do Professor. Parabéns a todos eles!

 

 

Histeria e vibradores

(Paulo Jacob)

sexualidade

Olá, como vão? Espero que bem!

Há umas duas semanas, eu assisti um filme chamado “Histeria” (procurem nas locadoras, já tem para locar). O filme foi baseado em fatos reais, e conta a relação da histeria, com a invenção dos vibradores, é isso mesmo, com os vibradores que hoje encontramos em lojas do tipo “Sex Shop”.

É que no final do século 19, existia uma doença causada por algum problema relacionado ao útero da mulher, esse doença era a histeria. As mulheres histéricas, tinham como característica uma agressividade fora do normal (imaginem nessa época, se uma mulher podia por exemplo falar mais alto, ou gritar com seu marido), ausências (desmaios), choros e risos descontrolados, e outras reações consideradas inapropriadas para uma mulher daquela época. O tratamento consistia em massagear o útero, e isso só era possível através da penetração com o dedo na vagina, e assim o útero era estimulado. Era óbvio que a grande maioria das mulheres chegavam ao orgasmo, e assim saiam alegres dos consultórios dos médicos. Parece mentira, mas era mais ou menos isso. O vibrador foi inventado nessa época, como forma de tratamento para as mulheres.

As mulheres possuem uma “ótima complexidade” na sua sexualidade, digo ótima, pois elas (teoricamente) podem conseguir chegar ao orgasmo estimulando outras partes de seu corpo, além da vagina. É como eu disse no texto sobre o prazer feminino (texto de 27/07), as mulheres são muito mais orgásticas que os homens, e o não “escoamento” de todo esse tesão (pulsão sexual), pode causar dentre outras coisas, a histeria.

Freud começou a psicanálise estudando sobre a histeria. Ele juntamente com Charcot (hipnólogo), fizeram muitos testes com mulheres diagnosticadas com histeria na época. Freud mostrou que a histeria estava muto mais relacionada com o psicológico dessas mulheres, do que com o físico, pois quando as mulheres eram hipnotizadas, as crises paravam, e quando voltavam para o normal, as crises voltavam, ou seja, era só a pessoa ficar em estado alterado mentalmente, que o problema cessava. Se o problema fosse realmente só físico, era para a pessoa continuar tendo ataques, mesmo hipnotizada.

Dizem que Freud quando atendia suas pacientes com problemas de mau humor, ou com sintomas histéricos (entre outros problemas), era comum em suas anotações escrever “P.N.”, ou seja “Penis Normalis”, que queria dizer que essas pessoas precisavam eram ter relações sexuais.

Aquela relação que no dia-a-dia fazemos, que quando uma pessoa está irritada, nervosa, impaciente, e que essa pessoa precisa de sexo, tem fundamento! Então lembre-se de Freud quando você começar a ter o famoso “piti”. Penis Nornalis!!

Abraço, e ótima semana!

Onde começa a doença?

(Dra. Karen Câmara)

saude

Há uma separação nítida entre saúde e doença? Existe um local onde a doença começa? Podemos precisar o momento em que uma doença inicia? Alguém pode estar cem por cento saudável? Em contrapartida, pode estar cem por cento doente? Acredito que não. Isso funciona de forma complementar, portanto há toda uma gradação entre saúde e doença.

Ninguém está cem por cento saudável. Podemos estar bastante saudáveis, ou seja, suficientemente saudáveis para realizar nossas tarefas do dia a dia e ainda um pouco mais. No entanto, apesar de nos sentirmos bem, podemos estar abrigando vírus ou células cancerosas sem que saibamos. Nosso organismo vive em equilíbrio juntamente com outros organismos que estão dentro de nós, na nossa pele e fora de nós. Cada vez que inspiramos, uma porção de bactérias, vírus e fungos entram no nosso trato respiratório junto com o ar. Por que não adoecemos? Porque temos um sistema de vigilância e defesa que nos protege, é o nosso sistema imunológico. Dentro da nossa boca e intestino vivem inúmeros micro-organismos, principalmente bactérias. Chamamos isso de flora. Quando há um desequilíbrio entre eles, ficamos doentes. Por exemplo, uma criança toma um antibiótico para pneumonia. Esse antibiótico altera o equilíbrio da flora do intestino e a criança passa a ter diarreia. Se alterar a flora da boca, a criança pode ter sapinho, que é uma infecção por fungo. O fungo do sapinho existe normalmente dentro da boca, mas só toma conta e provoca doença se a flora estiver alterada ou se o sistema imunológico não estiver de prontidão.

Existe um modelo proposto por dois cientistas, Leavell e Clark, em 1976, que explica o equilíbrio entre saúde e doença. Esse modelo foi um avanço no modo como as doenças eram vistas antigamente, quando se pensava que elas tinham uma só causa. Mas o modelo também foi bastante criticado por simplificar em demasia o processo saúde-doença, não levar em consideração os fatores sociais na produção das doenças e não estabelecer uma hierarquia na importância dos fatores.

Modelo de Leavell e Clark
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A figura ao lado é uma representação dos elementos envolvidos no processo saúde – doença: de um lado há fatores relacionados ao agente etiológico, as causas da doença; de outro lado estão os fatores de defesa do organismo susceptível à doença; o ambiente atua como o fulcro de uma balança favorecendo a manifestação patológica do agente (doença) ou a resistência do organismo (saúde).

As doenças têm uma história natural que pode ser dividida em diferentes fases. A primeira seria a fase inicial, quando o indivíduo não está doente mas é susceptível à doença. A segunda é a fase pré-clínica, quando não há sintomas e nem suspeitamos que estamos doentes, mas já existem alterações patológicas no organismo: é quando estamos incubando um vírus, por exemplo. A terceira fase é a clínica, quando a doença se manifesta através de seus sintomas, mais ou menos intensos, de acordo com cada indivíduo. Algumas doenças podem levar dias, semanas, ou até mesmo anos, para passar da fase pré-clínica para a fase clínica. E, finalmente, na última fase, pode haver vários desfechos: recuperação total ou parcial do organismo, a cronificação da doença, ou a morte do indivíduo.

Mas o que torna o indivíduo mais ou menos susceptível às doenças? Muitos fatores confluem e interagem nesse processo: os genes que ele herdou dos pais, o ambiente no qual ele vive, o estilo de vida que ele leva, os fatores psicossocias que atuam sobre ele e outros, que ainda não foram descobertos. Um caso recente que teve muito repercussão foi o da atriz Angelina Jolie, que se submeteu à retirada das duas mamas quando soube que seus genes lhe conferiam uma alta probabilidade de desenvolver câncer.

Embora a ciência esteja investindo grandes esforços em pesquisa, há pouco o que se possa fazer sobre os genes atualmente. Os outros fatores, no entanto, estão razoavelmente dentro do nosso controle e podem ser modificados, fazendo com que estejamos menos susceptíveis às doenças.